sábado, 13 de outubro de 2007

Fugir da Morte

Fugir da Morte

Comecei a correr, o mais rápido que os meus músculos já enfraquecidos pelos nervos o permitiam. Ao meu colo levava o meu filho, de poucas semanas. Ocorreu-me de repente a ideia de que ele devia estar a pensar em coisas boas, e alegrei-me com isso. Era demasiado pequeno para perceber o terror da situação. Mas depois lembrei-me do frio e da chuva que se estavam a abater sobre nós naquele momento, e qualquer coisa dentro de mim fez-me agarrar ainda com mais força o meu menino, apertando-o contra o meu peito, de modo a que sentisse o meu calor.

Atrás de mim corria com uma pistola na mão o maníaco do meu tio, que sempre tinha sido cruel comigo. Ultimamente tinham surgido ameaças vindas dele contra o meu bebé, mas nunca pensei que ele fosse capaz de chegar a este ponto. E, naquele momento, flagelei-me mentalmente de pensar que, se não tivesse sido tão crente, talvez pudesse estar tudo a correr bem. Talvez pudesse ter falado com a polícia, e a esta hora eu e o meu bebé talvez estivéssemos já a chegar a casa. Mas não, estávamos no meio de um temporal a fugir. A fugir da morte.

Cheguei à beira da falésia. Olhei para trás, em pânico. O meu tio parou de correr e balbuciou qualquer coisa, apontando a pistola na minha direcção. Mas eu não quis saber. Girei sobre si mesma e olhei para o mar. Depois ouvi alguém rir. Olhei para ele. Sim. Era o meu bebé que, olhando-me nos olhos, dava gargalhadas de pura alegria. Sorri-lhe, mas não tive coragem de dizer nada. Iríamos morrer juntos, era o inevitável. Mas eu fui boa de mais com o meu tio, e não deixei que ele ficasse com um peso na consciência. E saltei. E fiz bem, porque fui feliz.

E não me arrependi.


Tiago

Este conto escrevi-o à coisa de mês, e tentei esforçar-me mais nos sentimentos da personagem principal, que é Mãe. Uma mãe normal e nervosa, tentando proteger o seu filho de um mal pior que a morte.

4 comentários:

Aliice. disse...

Ok.. Um texto um bocado assustador de mais, mas muito bem escrito! :D

Continua, mas não tenhas mais ideias de morte tá ? xD

Anónimo disse...

Epa adorei Tiago!
Conseguiste transmitir bem a ideia dos sentimentos que a mãe sentia.

Deve ser complicado para a personagem deparar-se com tal situaçao...é cruel um bebé conhecer a morte tao cedo...mas está mt lindo mm! Parabéns!

Beijokas * * *

=)

Tiago Mendes disse...

Tentei amenizar a situaão, no fim. Apesar daquele final, quis transmitir a sensação do "era o melhor a fazer". Ela não se arrependeu de ter "protegido" o bebé. Ta cheio de entre aspas! XD

Muito obrigado pelos comentários :D

Belisa disse...

Olá :)

Vim visitar a tua casinha e acabei por ler estes teus contos e poema.
Gostei mas senti... que tu és uma pessoa triste...ou então à procura da felicidade...será que estou errada?

Beijos estrelados

Belisa